Nasci e cresci em Salvador, uma cidade linda, a primeira capital da Brasil.
Minha infância foi marcada por um ambiente familiar rodeado de dificuldades e batalhas no dia a dia, marcado pela falta de recursos. Meus pais me incentivaram desde cedo a estudar, para que eu tivesse a oportunidade que eles não tiveram com o pouco que tinha tentaram me promover a melhor educação.
Havia em mim um desejo enorme de ajudar a minha família, em especial a minha mãe e tirar ela da pobreza.
Esse desejo de mudar de vida me levou a sempre buscar refúgio nos estudos enquanto trabalhava ajudando a minha mãe no bar do qual ela possuía, era um olho atendendo os clientes e nos intervalos o outro nos livros estudando em embaixo do balcão. Contudo, a única coisa que eu podia me apegar era aos livros e a esperança de ter um futuro melhor e vencer na vida.
A partir dos 09 anos de idade eu já tinha me tornado a tesoureira da minha mãe, ajudava a controlar todo o dinheiro que entrava e saia, desde os recebimentos de clientes do seu comércio informal ao pagamento de contas e assim ela lutando dia após dia foi ampliado a sua residência e passou a ter pequenas casas de aluguel como complemento da sua renda para sobreviver e ajudar os filhos mais velhos e netos.
No decorrer dos anos passei a ser responsável pela elaboração, cobrança e guardar os recibos de pagamentos de aluguel do seu imóvel.
Sim, e tempos depois passei a ser conhecida como “o caixa da família” da qual os familiares me confiavam em guardar o dinheiro pois os mesmos não se confiavam em sí mesmos pelo risco de acabar gastando depois.
E desde então passei a ver o quanto a falta de dinheiro ou a má gestão dele era um sério problema entre as pessoas ao meu redor, abalando de forma negativa suas vidas.
E então cheguei a conclusão que eu faria diferente daquele ambiente alí, procuraria entender como controlar de modo correto o dinheiro e quais os meios alternativos de ter um aumento significativo dele.
Na infância em paralelo aos estudos e a ajudar minha mãe em seu comércio passei a exercer atividades que me trouxessem “vantagens financeiras”, como ajudar vizinhos concertando eletrônicos, realização de trabalhos escolares de séries das quais não havia ainda se quer alcançado, serviços de lanhouse, configurações de computadores, criações de contratos comerciais, babá temporária de crianças, dar banca, fazia biscuit, geladinhos para vender, desinfetantes e inúmeras coisas aleatórias.
E com a intenção de dar alívio financeiro a minha família próximo aos 18 anos resolvi sair de casa, entrei em um relacionamento desastroso do qual aos 19 anos encerrei e passei a morar de aluguel sozinha, trabalhando CLT e tentando conciliar a vida entre trabalhar durante o dia, fazer curso pela tarde e estudar a noite.
E com os anos seguir trabalhando, e aos 20 anos desempregada, fui morar em outra cidade, passei a procurar trabalhos aqui e alí, sem sucesso algum decidir que mesmo assim entraria em um curso de nível superior.
Para isso eu teria que viajar todos os dias para a capital “Salvador” através do transporte universitário para estudar em uma instituição particular pois como não consegui fazer a prova para ganhar uma bolsa de estudo em uma faculdade pública e como também não queria ficar sem estudar, a única forma de iniciar uma graduação no curso que eu queria seria de tal modo, já que meu curso não tinha disponível em nenhuma instituição particular da cidade (Camaçari/BA) da qual eu morava.
Me apeguei a única válvula de escape que tinha agora que era a esperança de mudar de vida!
E devido as batalhas dia a dia e a falta de oportunidades incluindo dinheiro consegui aos 21 anos entrar no curso de Contabilidade e no primeiro dia de aula já acabei sendo atropelada por um condutor com conjuntivite nos olhos, resultado?
“Fui parar na delegacia horas antes de viajar para primeira aula”.
Cursei alguns semestres em uma instituição de ensino que mais tarde tive que interromper os estudos por ser inacessível financeiramente falando.
Resultado? Tive que me transferir para outra instituição que fosse mais barata e acessível para o meu bolso.
Logo em seguida tive a infeliz notícia que teria refazer todas as matérias devido a carga horária ser incompatível de uma faculdade para a outra e em meio a tudo isso estava desempregada e vendia bolo no pote, biscoitos, concertava computadores, vendia quentinhas para sobreviver.
Entretanto ao meio da graduação na nova instituição de ensino enfrentei mais desafios na vida ao decidir empreender, tomei a decisão de abrir uma loja de produtos e moda íntima com CNPJ MEI, e ao mesmo tempo tentava ajudar a minha mãe, dar a assistência que ela precisava.
Porém a loja de produtos e moda intima que por um tempo deu certo com os anos passou a ter bastantes prejuízos e em seguida tive que fechar.
Um certo tempo depois resolvi empreender em outro ramo como MEI:
– “O de Assistência técnica de iPhones e produtos Apple” na nova cidade a qual morava, na região metropolitana de Salvador em Camaçari BA.
E assim fui seguindo durante o inicio da graduação, fui empreendendo, errando tentando acertar com o objetivo de ter uma boa renda e um negócio sólido para nunca mais passar dificuldades na vida.
E mais uma vez a vida me surpreendeu com desafios em meio a graduação…
A falta de clientes, a falta de investimento em marketing em meio a concorrência, a falta de orientação e conhecimento sólido em gestão me fizeram encerrar no ramo da assistência técnica.
E no decorrer da graduação tive que parar de trabalhar para mim mesma e ir atrás de uma bolsa de estágio na área de contabilidade, pois era obrigatória a disciplina de estágio mediante o curso.
O estágio era de segunda a sexta o qual me pagava pouco e não supria as minhas necessidades do dia a dia, e para sobreviver.
Quando chegava do estágio tinha que vender bolo no pote, salgados encomendados para festa e aos finais de semana água na praia, geladinho gourmet e etc para compor a renda e assim poder pagar o aluguel e os estudos.
Até que me parei em uma lamentável situação financeira durante a pandemia, sem emprego, sem renda estável, com familiares doentes a ponto de ter que trancar a faculdade no meio do curso por dificuldades financeiras.
Após 01 ano retornei aos estudos com muita luta e esforço para dar continuidade e concluir o que comecei, mesmo com muitas pessoas desacreditando de mim, me criticando e falando para eu desistir.
E assim enfrentei um grande dilema durante essa época da minha vida:
– “Trabalhar em um local e outro e ao mesmo tempo tentava empreender de uma forma ou outra” para superar as dificuldades da vida.
No quinto semestre da faculdade já com um melhor direcionamento resolvi seguir o meu coração e empreender outra vez.
Sim, eu não desistir, pois para mim isso nunca foi uma opção vindo de onde eu vim!
Ainda mais considerando que muitas pessoas da minha família apostavam suas esperanças e precisavam da minha ajuda.
Na época do quinto semestre da faculdade decidi abrir um espaço presencial e no ifood, uma hambúrgueria que vendia salgados, hambúrgueres artesanais, pastéis, açaí, refrigerante e entre outras coisas.
Aproveitei o cadastro do qual eu já tinha ativo como pessoa jurídica na modalidade MEI, do qual inclusive estava repleto de dividas das quais não paguei anteriormente devido a bola de neve que os problemas financeiros causaram na minha vida.
E com as poucas economias que tinha guardada resolvi quitar alguns débitos, fazer o meu parcelamento e regularizar as pendências, tudo isso graças ao conhecimento que adquirir na faculdade!
Eu estava determinada, então estudei a viabilidade do negócio na localidade da qual iria abrir, os custos iniciais, o retorno sobre o investimento e entre outras coisas e assim eu segui.
E por um bom tempo deu bastante certo, atendia diversos pedidos, o telefone não parava de tocar, inclusive moradores da região me procuravam até mesmo em dias ou horário que não funcionava, investi em mão de obra, em equipamentos, porém chegou um tempo que o fluxo de vendas passou a cair na região.
E infelizmente devido ao baixo fluxo de vendas na região o negócio passou a deixar de ser lucrativo, e as receitas não conseguiram superar as despesas e aí percebi no timing certo que era hora de encerrar por ali para não entrar em uma zona pior de prejuízo.
E ainda bem que agora eu já estava com uma bagagem de conhecimento maior e soube o momento certo de encerrar.
E assim o fiz.
Em 2023, tive que mudar de residência, passei a morar em uma localidade bastante parada, sem fluxo de ônibus, distante de mercados, centros e prefeitura, porém uma área calma, com a residência própria que poderia inclusive ampliar caso deseja-se tinha espaço para ampliação nela, estava feliz porque agora não enfrentaria mais tantos problemas relacionados a morada.
Neste mesmo ano minha mãe veio de outra cidade para visitar a nova casa e amou o local, queria até mesmo comprar uma casa na região para poder ficar mais próxima e eu ajuda-la, já que sempre fui a filha que sempre buscou de toda forma ajudar a ela, inclusive consegui anos antes aposenta-la para dar um descanso melhor para ela.
Porém a vida me tirou o chão quando em 11 maio de 2023 perdi a minha amada mãe semanas próximas ao meu último semestre da faculdade, faltando um curto intervalo de semanas para defesa do meu TCC (trabalho de conclusão de curso) e com o tema inspirado exatamente na minha mãe e na minha vida, intitulado de:
“A Importância da Contabilidade para o Micro Empreendedor Individual”.
Elaborei o trabalho com esta temática justamente por conhecer as dores, necessidades e desafios que os microempreendedores formais ou informais passam diariamente pela falta da orientação de um Contador e principalmente pela minha bagagem de vida desde a infância de ter testemunhado de perto os desafios que minha família passou para garantir o sustento e sobreviver as adversidades do dia a dia.
Até um dia desses me perguntava de onde consegui tirar tantas forças para concluir o trabalho de conclusão ao ponto de tirar 10, com lágrimas nos olhos o dediquei a minha maior base e referência de vida e superação:
“- A minha mãe!”
Meses após, entrei em uma depressão até que decidi após a perda me reerguer, faltando pouco tempo para concluir a faculdade decidir que eu já não tinha mais espírito para trabalhar CLT e sobreviver com tão pouco dinheiro.
E a partir deste momento então passei a aplicar corretamente os meus conhecimentos adquiridos ao longo do caminho e toquei o barco abrindo um novo negócio voltado para prestação de serviços digitais ao qual deu muito certo (graças a deus!) depois de tudo algum tinha que dar né?!, e passei a precisar terceirizar prestadores de serviço para dar apoio e fazer o operacional.
E assim finalmente consegui ampliar a minha casa e construir um escritório home office para administrar o meu negócio remotamente e também atender clientes na modalidade de contabilidade digital.
Então, tudo que sou hoje só tenho a agradecer ao criador, ao universo, ao meus pais, a linda família que constituir e agradecer até mesmo as dificuldades que passei ao longo da vida e fundamentalmente a contabilidade pois ela me ajudou desde sempre até aqui!
E em forma de gratidão e respeito jurei exercer com ética e zelo a minha profissão para ajudar inúmeras pessoas que precisam dela como parceira, uma grande aliada para fazer o seu negócio prosperar diariamente.
Entendi o porque passei tudo até aqui e a minha verdadeira missão que é através dela:
– Ajudar outros empreendedores.
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